terça-feira, 4 de novembro de 2014

Dicas para viajar de carro pelas estradas da Europa



Viajar de carro pelas belas estradas europeias é uma delícia. As paisagens são quase sempre paradisíacas, especialmente quando seguimos pelas pequenas estradas do interior. É uma experiência fantástica... Não viajei por todos os países da Europa ocidental, mas os países que visitei dão uma ideia geral. Nos últimos anos tive a oportunidade de viajar pelas estradas de Portugal, Espanha, França, Itália, Alemanha e Áustria. As rodovias são impecáveis e bem cuidadas... Seguem algumas dicas básicas para os marinheiros de primeira viagem, ou melhor, para os pilotos de primeira viagem. Aproveitem!

1 – Documentos necessários:
De uma maneira geral, para alugar um carro na Europa, basta ser maior de idade e possuir a Carteira Nacional de Habilitação do Brasil (CNH). A “carteira internacional” raramente é exigida. Particularmente nunca usei a minha, mas sempre estou de posse dela.  A Permissão Internacional para Dirigir (PID), a carteira internacional, pode ser requerida no DETRAN do seu estado, ao custo de cerca de 150 reais (preço em Goiás). Ela terá a mesma validade de sua CNH e comumente o prazo para a confecção é de 30 dias. Portanto, solicite a sua com antecedência... Outro documento óbvio que será sempre solicitado na entrega do veículo é o passaporte. Algumas locadoras exigem também uma idade mínima de 21 anos. Por último, você deverá obrigatoriamente apresentar um cartão de crédito internacional: ele será a garantia da locação e cobranças futuras, incluindo eventuais multas! 

2 – Onde alugar o carro:
faça a pesquisa pela internet, compare os preços e reserve o carro pela web. A reserva deverá ser feita com antecedência, evitando assim preços abusivos. Evite alugar diretamente na agência. Comumente alugo o carro na EUROPCAR por preferência pessoal, porém as opções são as mais variadas. O custo é relativamente baixo e depende da categoria do veículo. Outra coisa que pode encarecer o orçamento é a devolução do carro em um local diferente de onde você pegou, especialmente se você devolver em outro país. Neste caso a “tarifa de retorno” é muito pesada, podendo chegar a 1.000 euros! Desta forma, sempre que possível devolva o carro no mesmo país... Atualmente na comunidade Europeia não existe controle de fronteiras entre os países membros. Assim, você entra e sai destes países sem nenhum tipo de controle!

3 – Seguro:
o seguro básico obrigatório (PDW) não cobre roubos e incêndio, e em caso de sinistro, você deverá pagar uma franquia, que frequentemente não é barata. Desta forma, opte pelo seguro total (LDW), pois apesar de caro (cerca de 20 euros dia – na dependência da categoria), você viajará tranquilo e livre destes problemas. Seguros pessoais podem ser feitos, porém são dispensáveis.

4 – GPS:
o uso do GPS é obrigatório e de preferência com mapas atualizados. Se você não tem um, você poderá alugar juntamente com o carro (sobretaxa). Não é caro, porém nem sempre a locadora tem um aparelho disponível. Fique esperto!... Os modelos mais luxuosos já contém de fábrica um GPS. Cheque estes detalhes antes do aluguel!

5 – Velocidade máxima:
na maioria dos países o controle de velocidade é rigoroso, seja através de radares fixos e móveis, bem como através da polícia rodoviária. Siga corretamente as regras de trânsito e evite aborrecimentos. De uma maneira geral, na maioria dos países citados, as velocidades máximas permitidas são: 50 km/h em perímetro urbano, 90 a 100 Km/h nas estradas menores e 120 a 130 km/h nas autoestradas. As placas são bem visíveis e de fácil entendimento. Existe uma “lenda” que na Alemanha não existe limite de velocidade nas autoestradas. Não é bem assim! Realmente em alguns trechos não há limite de velocidade, contudo na maioria dos trechos os limites são parecidos com os demais países da Europa. A placa abaixo na Alemanha indica que a partir daquele ponto a velocidade máxima é liberada. Ela pode vir também com a velocidade do trecho anterior riscada.




5 – Pedágios:
em quase todas as autoestradas da Europa os pedágios estão presentes. O preço é razoável. Em Portugal, a dica é optar por contratar um sistema de “pedágio eletrônico” (Via Verde), através de um dispositivo que ficará dentro do carro. Assim, você poderá passar pelos pedágios sem perder tempo; depois a conta vem no seu cartão de crédito... Na Espanha, França e Itália os pedágios são semelhantes. Podem ser pagos em dinheiro ou cartão. Ao chegar num posto de pedágio você poderá optar por cabines com pagamento eletrônico ou pagar através de um atendente. Sempre que possível, opte pelo atendente. Contudo, em alguns pedágios a única opção é pagar através de máquinas, o que pode gerar algum estresse, porém usualmente sem maiores problemas (ande sempre com dinheiro trocado e moedas). Em algumas autoestradas destes países, ao adentrar nelas, você receberá um ticket de entrada, e na saída será calculado o valor a pagar, de acordo com a distância percorrida... Na Alemanha os pedágios são mais raros, presentes apenas nas autoestradas privadas... Já na Áustria para trafegar nas autoestradas você deverá obrigatoriamente comprar um selo (Vignette) e colar no vidro dianteiro, à esquerda. Ele deve ser adquirido nos postos de combustível e o valor depende do número de dias que você ficará no país (para 10 dias, o mínimo, o valor é de 8,50 euros). Dica: nos postos de abastecimento antes da fronteira da Áustria, comumente já é possível adquirir o selo pedágio.




6 – Abastecimento:
os carros podem ser a diesel ou à gasolina. Sempre opte pelo diesel pelo menor custo. Nos postos, na maioria das vezes o serviço é de autoatendimento e não há frentistas. Em alguns você poderá pagar diretamente nas bombas com seu cartão de crédito internacional. Já em outros, você deverá pagar no caixa do posto, antes ou após o abastecimento, não existindo uma regra única. Na primeira vez o abastecimento é “tumultuado” pela falta de prática, depois o desempenho melhora! 

7 – Estacionamento:
parar e estacionar o carro nas grandes cidades europeias quase sempre é uma tarefa complicada: primeiro pela escassez de vagas, segundo pelo alto custo. Nos estacionamentos públicos você deverá pagar por hora em máquinas automáticas, situadas próximas ao estacionamento: pague com moedas e deixe o comprovante na parte da frente junto ao vidro dianteiro... Dica: adoro viajar de carro pela Europa, porém sempre evito as grandes cidades. Opto por conhecê-las através de trens. É mais rápido, seguro e sem aborrecimentos com o trânsito. Dentro da cidade uso o transporte público ou táxi. Deixo o carro para as belas paisagens do interior e das pequenas cidades. Mais uma dica: em pequenos centros históricos da Itália é proibida a entrada de carro sem autorização prévia (somente para moradores e hóspedes de hotéis) e as multas são caras.

Espero que as dicas tenham sido úteis. Boa viagem!


MJR

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Malbec e Churrasco – Uma combinação perfeita!




Que nós, brasileiros, gostamos de churrasco não há dúvidas, seja na classe A, B ou C. Eu diria que é quase uma unanimidade nacional. Se perguntarmos para a maioria da população qual a bebida de preferência para acompanhar um bom churrasco, a resposta também seria homogênea: cerveja, cerveja! Será? Até concordo que a cerveja é uma boa parceria para o churrasco, especialmente na companhia dos amigos, num belo dia de sol e na beira de uma piscina. Não dá para discutir. Entretanto, posso garantir que num dia de temperatura mais amena, ou à noite, o vinho é o parceiro ideal. Almas gêmeas. E sem dúvidas, na minha opinião, o vinho que mais combina com a carne assada é o Malbec Argentino. Aliás, nossos hermanos têm a mesma opinião. E não é patriotismo barato deles, esta harmonização é boa mesmo. Lá ainda tem um fator positivo a mais: a carne argentina é espetacular. Quem já provou sabe do que eu estou falando. Assim, faça o teste você mesmo, num próximo “churrasco noturno”, de preferência bem acompanhado, abra um bom Malbec Argentino e desfrute desta combinação quase perfeita. Tintim!


*Desta vez vou indicar mais 2 vinhos, ambos da família Zapata: o Angélica Zapata Malbec 2008 (ou 2009) e o Alamos Malbec 2011. O primeiro é muito bom, porém mais caro, mas a relação custo-benefício vale a pena. Posso garantir. O segundo é mais simples e barato, porém também de boa qualidade. Onde encontrar? Visite o site da importadora Mistral (www.mistral.com.br). E, não se esqueça: decante o vinho antes de bebê-lo. Cerca de 30 minutos já faz a diferença!

MJR

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

O Malbec Argentino



“Brasil decime que se siente”... Este foi o hit mais cantado durante a Copa de 2014 pelos nossos hermanos. Uma verdadeira provocação aos brasileiros pela derrota da Copa de 1990. Mas hoje, o assunto não é futebol. É muito melhor: vinho! E não é qualquer vinho; é o grande ícone da América do Sul, orgulho dos nossos vizinhos (e nosso também): o Malbec Argentino.

A revolução dos vinhos argentinos aconteceu há cerca de 20 anos. Até lá, a maioria dos vinhos argentinos eram de qualidade duvidosa e muitas vezes apenas para o consumo local. Dois fatores foram fundamentais para a revolução dos vinhos argentinos. A modernização dos vinhos chilenos, um concorrente de peso, e a perseverança e dedicação do grande gênio da viticultura argentina: Nicolás Catena Zapata. Considerado por muitos o grande responsável pelo atual sucesso dos vinhos portenhos, em especial daqueles produzidos exclusivamente com a cepa Malbec.

É verdade que a uva Malbec não é autóctone da região, e sim uma cepa francesa, mais precisamente da região de Bordeaux. Todavia, foi na Argentina que ela conseguiu mostrar todo seu potencial – ou pra dizer melhor, toda sua grandeza! Mendoza é a principal região vinícola do país e sua grande estrela é a uva Malbec. Não se sabe ao certo porque ela se deu tão bem em solo Argentino, especialmente em Mendoza. Mas não interessa, o mais importante é que o vinho Malbec Argentino é quase sempre muito bom: de cor violácea escura, ótimo nariz, bem estruturado e com bom corpo. A madeira no vinho Malbec (fruto do estágio em barricas de carvalho) está quase sempre no ponto, nem muita, nem pouca, ao contrário do excesso de madeira nos vinhos chilenos. Lembrando que os vinhos argentinos de baixa qualidade também apresentam este mesmo defeito.

Outro fator importante: é possível tomar bons vinhos a preços convidativos, já que a isenção de impostos entre os países do Mercosul ajuda neste quesito. Eu poderia citar vários bons vinhos, mas desta vez a minha dica será o OBRA PRIMA GRAND RESERVA 2007, da Família Cassone. Vinho espetacular e com um preço razoável. O RESERVA 2010 é mais simples, porém muito bom e mais em conta, custando cerca de 70 reais (para os moradores de Goiânia é possível comprá-los no Beef Bistrot, no setor Marista). Por último, uma dica: decante o vinho por cerca de 30 minutos antes de bebê-lo: posso garantir, ele vai melhorar muito... Aprecie com moderação e “decime que se siente”!

E para acompanhar um bom Malbec Argentino? Este será nosso próximo assunto. Até lá.


MJR



domingo, 3 de agosto de 2014

Veneza - A capital do amor!



Veneza - a Capital do Amor, tão longamente cantada em prosa e verso, exprime com exatidão a essência do Romantismo. Há muito parada no tempo, insiste em não crescer e assim preservar sua singularidade: poucos discordam de que nada se compara a Veneza, é única no mundo.

Suas ruas não são mais que pequenos becos, emparedados pelas fachadas das casas. Nelas as caminhadas são longas, e incontáveis são os degraus. Suas verdadeiras artérias são os canais, atravessados por pontes em arco e fartamente servidos por transportes aquáticos, sejam individuais como as gôndolas e os táxis, ou coletivos, como os vaporettos, que são ônibus fluviais que trafegam pelos canais maiores.




As legendárias gôndolas são uma opção de transporte bem diferenciada - e cara. Símbolos da cidade, têm uma artimanha construtiva: a ponta dianteira é curvada para a esquerda, o que permite ao gondoleiro, que trabalha sozinho e rema apenas pelo lado direito, conduzir o barco adiante sempre em linha reta. O gondoleiro é uma pessoa particular: é, antes de tudo, um artista. Sempre cortês e galante, conduz a senhora pela mão ao embarcar.  Vestido de romântico italiano, vai mostrando os pontos de interesse pelo caminho, e a eles acrescenta suas pitadas de sentimento. Entre uma e outra explicação, canta. Canta e encanta, com seu discurso e suas melodias.



Passeando a pé para conhecer suas maravilhas, chegamos à Piazza São Marco, onde se destacam a Igreja de São Marco e seu Campanário, onde do alto de muitos andares, podemos ter uma visão soberba dos arredores, e o célebre Palácio dos Lordes, com sua fachada esculpida em colunas e arcos mouriscos. A igreja é uma jóia barroca ricamente decorada com mosaicos dourados que ilustram também suas imagens bizantinas. Na outra margem do Canal Grande floresce a imponente igreja de Santa Maria de la Salute, que nos delicia com sua decoração barroca tendo ao fundo a melodia angelical do seu famoso órgão, que não interrompe as notas durante todo o tempo em que lá permanecemos. Um pedacinho do Paraíso.






Mais uma caminhada e se chega ao Museu Dell'Academia, onde figuram as obras dos principais pintores de berço veneziano: TicianoTintoretto, além de  Veronese, nascido em Verona mas criado desde a infância em Veneza.  Mestres do Renascimento italiano, são mundialmente reconhecidos e têm suas obras expostas nos principais museus e igrejas do mundo.

Como se não bastassem as maravilhas da cidade, a música ainda enche cada canto. Por onde quer que se vá, ouvimos alguma melodia. No Museu da Música, uma exposição da vida e obra de compositores clássicos, desde suas roupas até os instrumentos que utilizavam. Veneza se orgulha muito de seu filho mais ilustre: o compositor Antonio Vivaldi, dono de uma obra longa e notável, que se tornou popularmente conhecido com "As Quatro Estações". Por ocasião de seu aniversário, a cidade promoveu uma série de concertos. A emoção domina a alma diante de um grupo de violinos, violoncelo, viola, contrabaixo e cravo, todos vestidos com trajes de época e executando com maestria os 12 movimentos da peça. Inesquecível.



Depois da tantos degraus e tanto deleite aos olhos e ouvidos, um pequeno descanso e o deleite ao paladar: um merecido jantar no restaurante Antico Martini, talvez o melhor de Veneza. O ambiente é distinto e o serviço, cortês.  De entrada, um prosciutto Danielle com cogumelos e uma veloutata de patatte com gamberetti. Para pratos principais, um tagliatelle com carcioffi freschi e umas costeletas de agnello(cordeiro) com batatas. Como sobremesas, um tradicional tiramisu com toque gourmet e um picolo boletini caldo com gelatto de crema e frutti silvestri. Harmonizando com tal qualidade culinária, um Vêneto de grande presença: Amarone Masi Costasera 2007.


Para coroar a cidade do amor, romântico mesmo é se sentar ao sol manso do entardecer, nas mesas do elegante Café Florian, na Piazza São Marco, um símbolo de tradição fundado em 1720. Acompanhando os delicados quitutes do mais antigo café da Europa, servidos em fina louça e impecável prataria, nada é mais indicado que o espumante Franciacorta Ca dell Bosco, que nada deve aos melhores Champagnes. Uma tarde única numa cidade única: simplesmente imperdível.

Raquel



segunda-feira, 26 de maio de 2014

Barcelona - Gaudí


Barcelona é a concretização do sonho do gênio arquitetônico de Gaudí, que imprimiu sua identidade à cidade.



Antoni Gaudí é considerado o maior expoente do Modernismo Catalão e um dos principais personagens da Art Noveau na Europa, apesar de seu estilo ser tão próprio que se torna difícil de classificar. Nascido em 1852 e durante  seus 50 anos de carreira, combinou o amor pela Catalunha, sua terra natal, com o apreço pela natureza e uma profunda devoção religiosa. Morreu atropelado por um trem aos 73 anos.
Incontáveis livros ilustram seu espírito genial, de modo a ser impossível resumir sua obra em poucas palavras. Suas construções são tão ricamente decoradas que apenas olhos muito atentos - e bem treinados - são capazes de perceber sua grandiosidade. O arquiteto não desenhava suas obras; construía maquetes onde avaliava sua real possibilidade e estimava a sustentação das estruturas. Desta forma, utilizou amplamente os arcos catenários, um dos seus marcos, assim denominados por simularem a posição de uma corda suspensa pelas duas extremidades. Também popularizou os planos abertos, que conferiam iluminação e ventilação, o trencadís, técnica semelhante a um mosaico, mas que utiliza fragmentos cerâmicos maiores, e o ferro fundido, que adornava invariavelmente suas fachadas, quase sempre com motivos da natureza. Neste rico universo, algumas obras merecem um destaque especial.

O templo da Sagrada Família começou a ser construído em 1914 e a ele se dedicou exclusivamente por 43 obstinados anos. Inicialmente concebido para ser um templo gótico, assumiu o estilo inimitável de Gaudí. A primeira impressão é a fachada da Paixão, onde estátuas cadavéricas que encenam a tortura e morte de Jesus Cristo se entremeiam numa paisagem desértica, ladeada por colunas que lembram ossos humanos, tudo numa tentativa de aquilatar o sofrimento supremo. Ainda inacabada, a outra fachada, desta vez da Natividade, exprime todos os elementos contidos no nascimento de Cristo. As estátuas particularmente esculpidas em poses teatrais parecem dar vida à cena. Partindo em direção ao céu, os pináculos da mais alta igreja foram decorados com mosaico veneziano e alguns são finalizados com frutas ou flores. Adentrar a basílica é uma experiência mágica. A iluminação foi concebida de modo que a luz, ao atravessar os vitrais, cada qual com um predomínio cromático, incide em focos multicoloridos dentro da nave. As altíssimas colunas góticas simulam troncos de árvores, cuja finalização em arcos mimetiza as folhas das copas das árvores. Tudo é luz e cor. Nas palavras de Gaudí: "O templo da Sagrada Família será o templo da luz harmoniosa. Na iluminação das igrejas existe um mal entendido de que a abundância de luz é um elemento positivo. Não é bem assim. A luz deve ser a necessária, nem demasiada, nem pouca, posto que ambas as coisas cegam. E os cegos não vêem."









A Casa Milá ou La Pedrera foi construída já nos anos de maturidade profissional da Gaudí. Idealizada como um edifício de apartamentos, ainda hoje conserva seu mobiliário cuidadosamente desenhado pelo artista. Além da construção de grandes fendas que permitem a entrada de luz e ventilação naturais, é em sua cobertura que o espírito inventivo se manifesta: diante do conceito de telhados com chaminés feias e sujas, simplesmente deu de ombros e provou que até mesmo ali podia externar todo o seu capricho: num cenário quase surreal, formas sinuosas arrematam as saídas das escadas e as chaminés, ricamente revestidas pelo trencadís.



A Casa Calvet foi idealizada como residência e escritório de um comerciante e hoje abriga um excelente restaurante tradicional de serviço cortês e comida bem elaborada. Em sua fachada os terraços são ricamente ornamentados com grades de ferro fundido imitando motivos da natureza. Todo seu interior se mantém primorosamente conservado e exprime com distinção e elegância cada detalhe do estilo Art Deco.


Podemos citar também as obras realizadas sob encomenda de Eusebi Güell, seu patrono e grande amigo, a Finca Güell, o Parque Güell e a Cripta Güell; além destas, o Palácio Episcopal, a Casa Vicens, a Casa Bartlò (fotos abaixo) e um sem número de outras obras.




Poucos gênios serão como Gaudí: em sua introspecção religiosa e silenciosa dedicação revolucionou todo um movimento artístico com as próprias mãos.

Raquel


quarta-feira, 7 de maio de 2014

Roma - Itália



A Cidade Eterna. Fundada em 753 a.C., Roma é um burburinho de pessoas e buzinas. A capital do Catolicismo vê passarem apressados grupos de religiosas, como se a batina escura não as castigasse debaixo do sol inclemente.

Se perder pelas ruas de Roma é encontrar cultura. O Coliseu transpira História. Uma das sete maravilhas do mundo moderno, foi construído de 70 a 90d.C. pelo imperador Vespasiano, que após uma série de desastres em seu reinado, como a erupção do Vesúvio, o incêndio de Roma e a disseminação da "peste", decidiu implementar, pela  primeira vez na história, a "política de pão e circo". Desta forma, construiu um local para acalmar o povo e apaziguar os deuses. Além dos seus 3 andares que abrigavam um público de 50 mil pessoas, o Coliseu contava com mais 2 andares subterrâneos, onde permaneciam os gladiadores, as feras, os condenados às portas da execução e todo o pessoal de apoio aos espetáculos. Contava com um sistema de elevadores através dos quais tais personagens eram conduzidos à arena. Cada pedra parece pulsar ao ritmo do coração dos gladiadores que ali deixaram suas vidas.

Em cada quadra, um novo belo templo. A Basílica de São Pedro é a prova viva da pequenez do homem diante da divindade. Depois da primeira impressão da grandiosidade interna da maior igreja católica, logo nos deparamos com sua obra prima: sobre a Pietá, uma luz quase sobrenatural parece evidenciar ainda mais cada dobra das vestes, cada veia dos braços e cada unha das mãos. Tudo apenas para nos mostrar a inimaginável habilidade de Michelangelo, escultor que deu vida a um bloco de mármore e o poliu como marfim, na mais perfeita expressão da delicadeza. Ao fundo do altar encimado pelo baldaquino de Berrini, um vitral especial representa o Espírito Santo, luminoso e hipnotizante.

É lamentável que os Museus do Vaticano tenham que ser cumpridos de maneira tão impessoal, impelidos pelo excessivo número de visitantes que buscam apenas um objetivo: a Capela Sistina. Do mesmo modo como todas as obras riquíssimas de seus corredores, esta estupenda obra é verdadeiramente negligenciada em sua plenitude. O local deve seu nome ao papa Sisto IV e a última pintura foi finalizada em 1541, não se sabendo ao certo quando foi iniciada. Nas pinceladas magistrais de Michelangelo uma amostra de com o gênio humano pode superar qualquer barreira. Foram cerca de 10 anos pintando um único teto. O pai do barroco dispensou pessoalmente seus assistentes por não julgá-los competentes o suficiente. A perspectiva é tão perfeita que não se pode sequer distinguir colunas verdadeiras daquelas pintadas.

As opções gastronômicas são várias, mas talvez uma das melhores mesas seja a do Gaetano Costa, no nobre bairro da Villa Borghese. Na casa deste Siciliano temos uma comida de sotaque francês no coração da Itália. Começamos com uma sopa de crustáceos com folhado de provolone, seguidos de fundo de alcachofras com muzzarella de búfala. Em meio aos pratos de fina elaboração, o fagotelli rosso trufado. Seu perfume de trufas frescas enche o ambiente... e preenche a alma. Harmonizado com o Brunello de Montalcino Castelgiocondo, 2003. Para finalizar, as sobremesas delicadamente montadas: torta folhada de maçã com gelato de vanilla e torta mousse de ciocollata com gelato de frutas vermelhas silvestres.


Depois de um dia de passeio não há carícia melhor que o finíssimo perlage de uma bela Veuve Clicquot. E nenhum lugar do mundo é mais convidativo que o terraço do Hotel Sofitel. Sentado em boa companhia no sexto andar deste elegante edifício da Villa Borghese, pode-se deleitar da beleza dos telhados sob o sol do entardecer, onde se destaca, única e majestosa, a cúpula  da Basílica de São Pedro. Apenas uma visão pode ser ainda mais encantadora: a mesma cúpula, vista do mesmo lugar, só que desta vez sob o céu da noite, impondo sua soberba iluminação.

Raquel















sábado, 19 de abril de 2014

Abadia Retuerta, Espanha




Um convite à Paz. A Abadia Retuerta Le Domaine é uma antiga abadia beneditina do século XII selecionada pelo inquestionável bom gosto do grupo Relais e Chateaux e moldada à perfeição para acomodar com requinte os hóspedes mais exigentes.

A estrada em direção noroeste de Madrid, conduz a esta pequena jóia, que repousa às margens do rio Duero, na prestigiosa região vinícola de Ribera del Duero. A elegante alameda de entrada, ladeada por ciprestes e cercada por vinhas e oliveiras emoldura a construção de estilo Barroco-Românico, que se impõe dourada ao entardecer.

Os antigos claustros onde repousavam os monges foram transformados em 18 quartos, amplos e confortáveis, onde se pode deliciar o silêncio oferecido pela solidez das paredes de pedra. Silêncio que embala sonhos na grande cama de lençóis do mais perfeito algodão. No banheiro, as toalhas felpudas vêm guarnecidas de outras, de linho, impecavelmente bordadas e engomadas. As janelas descortinam a vista dos vinhedos que cercam a propriedade. Vale a pena visitá-la no outono, quando as vinhas ficam repletas de cachos maduros e doces.

Dentro da Abadia, uma pequena igreja, onde as grossas paredes românicas de pedra trazem conforto e convidam à meditação. O ambiente é austero, quase franciscano, sem qualquer alusão ao luxo das grandes edificações religiosas. Não há estátuas ou imagens. Apenas a solidez das paredes seculares, uma pia batismal e um magnífico portal de madeira entalhada. Tudo iluminado de maneira discreta: um ambiente ecumênico, acima de qualquer credo. Grandioso em sua simplicidade.

O restaurante, "Il Refectório", é o antigo refeitório dos monges e tem o pé direito altíssimo sustentado por arcos góticos. Na parede principal, um enorme afresco do final do século XVII.  A comida impecável e o serviço muito bem orquestrado lhe renderam uma estrela Michelin. Para as horas mais descontraídas, um bar de tapas, "La Vinoteca", e um elegante lounge bar, a "Sala Capitular".

Imediatamente após a realização da reserva, o atencioso staff do hotel agradece a preferência oferecendo todo tipo de mimos. Em e-mails discretos e cordiais, perguntam seu horário de chegada para que possa ser providenciado no quarto uma cesta de frutas frescas, castanhas quentinhas e uma garrafa do vinho da adega própria. Deixam reservada uma visita exclusiva à vinícola, uma das mais antigas e respeitadas da Espanha.

Mesmo uma estadia curta nos propicia esta experiência única: Purificação e Luxo, para o corpo e para a alma. 

Raquel