sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Bordeaux - O melhor vinho do mundo - Parte IV.



Um pouco mais sobre os châteaux e vinhos do Haut-Médoc

A melhor maneira de conhecer a região de Bordeaux é de carro. Existem vários agentes turísticos locais que fazem excursões diárias para os principais châteaux, saindo da cidade de Bordeaux, mas se você puder faça o passeio por conta própria. É muito mais prazeroso, sem regras e sem limites. Mas tenha muito cuidado e não dirija sob o efeito do álcool – planeje o motorista da rodada!

Já tive a oportunidade de visitar várias regiões vinícolas na Europa, especialmente na França, mas nada se compara a uma visita à margem esquerda do rio Gironde. Para os amantes do vinho a região é incomparável!

Um dia de passeio é bom, mas talvez dois seja o ideal. Há quem fique hospedado num dos châteaux da região que dispõe de quartos e restaurantes privativos, por uma ou duas noites. Ainda não tive a oportunidade de fazer esta opção, mas quem já fez, garante que vale a pena!



Na minha visita optei por ficar hospedado na cidade de Bordeaux, por quatro noites, e alugar um carro para passear pelo Haut-Médoc e pelas demais regiões de Bordeaux. A comuna de Margaux fica a 25 km do centro de Bordeaux. Existe uma estrada principal margeando os vinhedos, mas o ideal é por dentro dos vinhedos, seguindo pelas pequenas vias: sem pressa, parando e admirando a bela paisagem. O terreno é totalmente plano e ao chegar à Margaux você verá castelos e mais castelos. Cada um mais charmoso que o outro. Entre os castelos, vinhedos e mais vinhedos. É impressionante a beleza das propriedades!




Para visitar os châteaux mais prestigiados é preciso reservar com antecedência pela internet ou por telefone. Fiz tudo por email. Quase todos são abertos para visitas. Optei por conhecer o Château Cos d’Estournel, em Saint-Estèphe. A minha escolha foi baseada na imponência do castelo – uma construção atípica para a região. A primeira vez que vi este belo Château foi num DVD produzido pelo jornalista Renato Machado no canal fechado GNT no começo da década passada. Outro motivo foi a qualidade dos vinhos produzidos ali: um dos meus preferidos. A visita foi impecável. Se tiver interesse, leia o post publicado em maio 2015.





Depois da cidade de Margaux (cerca de 15 km ao norte), a próxima comuna importante é Saint-Julien (Saint-Julien / Beychevelle). A importância desta pequena aldeia se dá pelo número expressivo de châteaux classificados em 1855. Logo depois de Saint-Julien (a divisa é praticamente imperceptível) temos a comuna de Pauillac, a mais badalada de todas, em virtude dos grandes châteaux ali situados e da pequena vila às margens do Gironde. Grudado em Pauillac, literalmente, temos a região de Saint-Estèphe, outra comuna importante do Haut-Médoc. Um fato me marcou bastante: os Châteaux Lafite-Rothschild e Cos d’Estournel fazem divisa, um em Pauillac e outro em Saint-Estèphe. Apenas uma estreita faixa de vegetação os separa (veja nesta imagem aérea do Google Earth). E o mais interessante: os vinhos são totalmente distintos!



Entre Margaux e Saint Julien, temos o chamado Médoc Central, uma área menos nobre, mas que produz alguns excelentes vinhos, não classificados em 1855. As duas principais aldeias são Listrac e Moulis. Excelentes vinhos, Cru Bourgeois, são produzidos aqui e com preços bem camaradas. As duas vilas são mais interioranas, longe do rio, o que prejudica a qualidade do solo. Todavia, em anos bons e nas mãos de bons produtores, você poderá encontrar excepcionais vinhos. Procure pelo Château Maucaillou, Château Chasse-Spleen e Château Poujeaux, dentre outros. Recentemente numa degustação às cegas na minha casa, o Chasse-Spleen 2001 bateu vários Grand Cru Classé de 1855 do Haut-Médoc.

As características das sub-regiões do Haut-Médoc e os vinhos de destaque.



Margaux – é a maior comuna do Haut-Médoc e a mais ao sul. O solo é mais leve e pedregoso – muito cascalho – e a drenagem da terra é quase perfeita. Os vinhos são descritos como elegantes, aromáticos e finos. O Châteaux Margaux é o mais importante – o único premier cru da região. Outro expoente é o Château Palmer (troisième cru) – um castelo maravilhoso. Dos 61 vinhos classificados em 1855, 21 estão localizados em Margaux. Destaco os seguintes: o Château Rauzan-Ségla, o Château Lascombes, o Château Cantenac-Brown, o Château Kirwan e o Château D’Issan.




Saint-Julien – é a menor comuna, porém 95% dos châteaux estão listados na classificação de 1855. São 11 no total. Talvez no Médoc, sejam meus vinhos preferidos pelo custo-benefício. Karen MacNeil no seu livro A Bíblia do Vinho escreveu: “se você quiser beber apenas os vinhos dessa comuna pelo resto da vida, com certeza será muito feliz”. Os vinhos são saborosos, refinados e, ao mesmo tempo, potentes. Não sei o motivo, mas sempre tive uma queda pelos vinhos do Château Lagrange. Tive a oportunidade de degustar várias safras, quase todas muito boas, especialmente as mais antigas. Outro vinho marcante da região é o Château Gruaud-Larosse. Destaco ainda os seguintes châteaux: os três Léoville, o Ducru-Beaucaillou, o Branaire-Ducru e o Beychevelle. Não poderia terminar esta comuna sem comentar sobre o Château Gloria. Ele produz um vinho delicioso, complexo e relativamente barato. Recentemente paguei 45 dólares por uma garrafa, safra 2010. Uma pechincha pela qualidade do vinho!





Pauillac – a maior estrela do Haut-Médoc. O requinte do requinte! Três dos cinco premiers crus estão localizados aqui (Château Lafite-Rothschild, Château Mouton-Rothschild e Château Latour).  A comuna em si é menor que Margaux, mas possui 18 vinhos classificados em 1855. Os vinhos de Pauillac são descritos como mais encorpados e complexos, todavia o terroir é muito variado, e por isso as características dos vinhos oscilam muito entre as propriedades. A proporção entre as uvas usadas para a vinificação também é muito variada: alguns utilizam mais cabernet sauvignon (até 70%) e outros nem tanto (45%). Além dos três premiers crus, destaco ainda o Château Lynch-Bages, o Château Longueville Comtesse de Lalande, o Château Haut-Bages-Libéral, o Château Grand-Puy-Lacoste e o Château Grand-Puy-Ducasse.






Saint-Estèphe – pequena comuna ao norte, no extremo do Haut-Médoc. Aqui os vinhos são mais austeros e potentes, em virtude do solo mais pesado, o que dificulta a drenagem do mesmo. Sou literalmente apaixonado pelos vinhos daqui. Além do Cos (como os produtores locais chamam o Château Cos d’Estournel), outro vinho soberbo é o Château Montrose. Em 2014, em visita à França, tive a oportunidade de beber a safra 1996 deste vinho – algo inesquecível. Mais uma vez gostaria de citar que a visita privada ao Château Cos d’Estournel é impecável e que pode ser reservada com antecedência pela web. O custo não é tão alto, haja vista que é uma visita exclusiva para poucas pessoas. Vale a pena. Recentemente a safra 2009 foi excepcional. As duas estrelas da região, o Montrose e o Cos, foram laureadas com a nota máxima, 100, pelo jornalista americano Robert Parker.




MJR

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Bordeaux - O melhor vinho do mundo - Parte III.



A classificação de 1855

Prepare-se, pois cada região de Bordeaux tem a sua própria classificação. Apesar de alguma semelhança entre elas, detalhes podem fazer uma grande diferença. A classificação mais antiga e conhecida é a do Médoc, à margem esquerda do Gironde. Ela foi encomendada por Napoleão III em 1855. A ideia era graduar os melhores châteaux e vinhedos da região. A classificação foi baseada em qualidade, mas principalmente, no preço e no prestígio dos vinhos. Passados mais de 160 anos a classificação ainda vigora. Vejamos algumas curiosidades:

1 – Os 61 vinhos foram hierarquizados em cinco categorias, todos tintos, de premier cru (os melhores e mais famosos: os ícones de Bordeaux) ao cinquième cru (teoricamente os “piores” da classificação). Neste contexto a palavra “cru” em francês significa “um vinhedo ou um conjunto de vinhedos”.  A palavra premier significa primeiro e a cinquième, quinto. Assim, a classificação de 1855 graduou os vinhos do Médoc em cinco categorias: premier cru, deuxième cru, troisième cru, quatrième cru e cinquème cru.

2 – Na teoria um “segundo cru” é melhor que um “quinto cru”, e assim por diante. Porém, na prática esta afirmativa não é válida. Os motivos são vários: safra do vinho, zelo do produtor e especialmente a evolução do Château no tempo – mais de 160 anos. A classificação foi alterada apenas uma vez, quando em 1973 o Château Mouton Rothschild deixou a segunda categoria e passou a frequentar a do grupo mais nobre.

3 – Todos os vinhos desta classificação expressam em seus rótulos o termo “Cru Classé 1855” ou mais frequentemente “Grand Cru Classé 1855”. A palavra “Grand” (grande) no Médoc tem pouca importância, mas nas outras regiões o termo pode ser relevante. Já “Classé” significa classificado.



4 – Até aqui, escrevi que todos os vinhos são provenientes do Médoc, porém existe uma exceção, o Château Haut-Brion que é de Graves. Portanto, na classificação de 1855, 60 vinhos são do Médoc e apenas 1 de Graves, todos da margem esquerda. Todos sem exceção!

5 – A grande maioria dos vinhos está situada nas quatro sub-regiões do Haut-Médoc: Saint-Estèphe, Pauillac, Saint Julien e Margaux. Contudo, alguns vinhos “Grand Cru Classé 1855” ficam fora destas 4 sub-regiões, mas ainda dentro do Haut-Médoc, e desta forma aparecerá no rótulo da garrafa a origem do vinho:  A. Haut-Médoc C., além do Grand Cru Classé 1855, é claro.



6 – De uma forma geral, em boas safras, estes vinhos são excepcionais. Quase todos com grande poder de envelhecimento e guarda, durando 15, 20, 30 anos ou mais. Usualmente eles estarão prontos para serem bebidos a partir de 10 a 15 anos, na dependência do produtor e da safra. Dica: procure por vinhos com mais de 10 anos. Antes disso, eles são ásperos, duros e fechados.

7 – Veja na tabela a seguir, a lista de todos os 61 vinhos da Classificação de 1855. Ao final desta série – Bordeaux, o melhor vinho do mundo – voltarei a comentar sobre alguns vinhos que já degustei e suas características.



8 – Praticamente todos os châteaux classificados em 1855 produzem o chamado “segundo vinho” da casa. Eles não têm a excelência dos primeiros, mas usualmente tem ótima relação custo-benefício. Dois exemplos: o Château Montrose produz o La Dame de Montrose, seu segundo vinho. Já o Château Gruaud Larose produz o Sarget de Gruaud Larose, um tinto muito bom. Não confunda o deuxième vin, segundo vinho, com deuxième cru.





9 – Para finalizar a classificação do Médoc, gostaria de comentar sobre uma categoria importante de Bordeaux, denominada de “Cru Bourgeois”. Os vinhos não pertencem à classificação de 1855, mas gozam de grande prestígio na região. São cerca de 200 Châteaux. Infelizmente, existe uma grande heterogeneidade na qualidade dos vinhos desta categoria, mas existem excelentes vinhos e de ótima relação custo-benefício. Destaco dois vinhos desta categoria que estão situados na região de Moulis no Médoc (Moulis en Médoc), e que são muito bons: o Château Maucaillou e o Château Chasse-Spleen.



9 – Por último, gostaria de citar que alguns excelentes produtores não classificados em 1855, se recusam a entrar em outras classificações, e mesmo assim produzem vinhos extraordinários, como Jean Gautreau do Château Sociando-Mallet no Haut-Médoc.



Terminamos aqui a classificação do Médoc. Passemos rapidamente pelas outras regiões de Bordeaux.   

Na região de Graves, ao sul da cidade de Bordeaux, a classificação é mais singela. Existem apenas 13 vinhos tintos e 8 vinhos brancos classificados como superiores – os chamados Grand Cru Classé. A Classificação foi feita em 1953 e revista em 1959. Não há uma ordem hierárquica entre os vinhos. Destaco o Château Pape-Clément, um tinto magnífico, além, é claro, do premier cru Château Haut-Brion.



Talvez em Saint-Émilion temos a classificação de Bordeaux mais complexa e a que costuma gerar mais confusão. Os vinhos foram classificados inicialmente em 1954, com a perspectiva de revisão a cada 10 anos, a última em 2012. Veja alguns detalhes desta classificação:

1 – Os grandes vinhos, os Châteaux mais prestigiados e melhores, foram denominados de Premier Grand Cru Classé.  Aqui a palavra Premier faz toda a diferença, fique atento! Nesta primeira subcategoria, quatro vinhos foram ainda denominados do Grupo “A” (Château Ausone, Château Angelus, Château Pavie e Château Cheval Blanc), os melhores da região, e outros 14 vinhos ficaram no Grupo “B”, melhores que os demais não participantes destes grupos, sem letras. Um famoso vinho da subcategoria “B” é o Château Figeac.



2 – A segunda categoria de Saint Émilion é denominada de Grand Cru Classé (sem a palavra Premier). Usualmente são bons vinhos. Existem 63 vinhos classificados nesta categoria. Neste link, http://www.artwine.com.br/noticias/270/as-surpresas-da-nova-classificacao-de-saint-emilion , você encontrará a lista de todos os vinhos Grand Cru Classé da região.

3 – A terceira categoria é a Grand Cru, sem o Premier no início e sem o Classé ao final. Existem dezenas de vinhos nesta categoria o que explica a heterogeneidade da qualidade destes vinhos. Por vezes são caros, magros e pouco inspiradores. Outro são bons e baratos. Fique atento!

Em meio a esta confusão os vinhos de Pomerol jamais foram classificados. Nem mesmo o famoso Château Petrus entrou na classificação de 1855. Nem por isso, deixou de ser o mais caro e famoso vinho de Bordeaux.



MJR

* Em breve a parte IV



quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Bordeaux - O melhor vinho do mundo. Parte II



A complicada legislação vinícola francesa

Entender a legislação francesa que tem como finalidade mostrar a qualidade dos vinhos não é uma tarefa fácil. Para complicar, cada região vinícola tem a sua classificação própria. De uma maneira geral, quanto mais genérico for o vinho, pior será sua qualidade.

O vinho mais básico da França é vin de table (vinho de mesa). Corresponde a mais de 50% dos vinhos produzidos na França. Esta denominação não mostra no rótulo a região de origem do vinho, nem o vinhedo em que foi produzido. Felizmente são raros em Bordeaux.

O segundo vinho mais genérico é o vin de pays (vinhos regionais). Também têm pouca qualidade, mas já mostra onde ele foi produzido.

O terceiro patamar é o VDQS (vin de qualité supérieur), mas não se iluda, pois em geral, os vinhos desta categoria também são ruins. Mas é preciso conhecê-los para não cair na armadilha da classificação, pois convenhamos, o nome é pomposo!



Passemos aos vinhos de maior qualidade, o que nos interessa. Todos eles terão no rótulo a chamada “apelação de origem controlada” (AOC: appellation d’origine contrôlée). Desta forma, os vinhos oriundos de Bordeaux terão no rótulo: AOC Bordeaux ou “Appellation Bordeaux Contrôlée”. Veja imagem anterior. Em Bordeaux, existe uma categoria uma pouco acima desta, que é a Bordeaux Supérieur. Aqui começa o problema. Centenas de produtores usam estas duas denominações, AOC Bordeaux ou AOC Bordeaux Supérieur, e a qualidade dos vinhos é extremamente heterogênea, existindo uma grande oscilação entre eles.



Uma nota lamentável: os famosos vinhos de Bordeaux representam apenas uma pequena fração de todos os vinhos produzidos na região de Bordeaux.

Como veremos no próximo item, a região vinícola de Bordeaux é dividida em sub-regiões, como a sub-região de Médoc, já citada. Quanto mais restrita for a apelação de origem, melhor tenderá a ser a qualidade do vinho.  Assim, a AOC Médoc tende a ser melhor que a AOC Bordeaux. Por sua vez, o Médoc é subdividido em outras regiões menores.



Não desista. No começo tudo é muito complexo, mas depois acostumamos com as siglas. Vou dar uma pausa na classificação e deixar a legislação específica de Bordeaux um pouco mais para frente. Um breve descanso. Depois de entendermos as sub-regiões e as cepas, voltaremos ao assunto.

As regiões de Bordeaux

Antes de tudo, é preciso ter mente a disposição dos três rios. Veja a foto seguinte do Google Earth. Eles são as referências da região. Posto isso, vamos ao combate:



Médoc e Haut-Médoc

A principal região vinícola de Bordeaux é o Médoc. Uma faixa relativamente estreita de terras, à margem esquerda do grande rio, o Gironde, numa extensão de aproximadamente 80 km, no sentido norte-sul. Ela começa ao norte, junto ao estuário do rio Gironde e termina ao norte da cidade de Bordeaux. Por sua vez, o Médoc é dividido em duas regiões: o Médoc, terço superior ao norte (antigamente denominado de Bas-Médoc), e o Haut-Médoc, ao sul. Mais uma confusão “bordalesa”, dois nomes iguais para regiões distintas. Veja no mapa. 



* Haut-Médoc significa “Alto Médoc”, aspecto relacionado à altitude em comparação ao Bas-Médoc,“Baixo Médoc” ao norte.

O Haut-Médoc, a melhor e mais nobre região de Bordeaux, é dividido em quatro sub-regiões: Saint-Estèphe, Pauillac, Saint-Julien e Margaux, do norte para o sul. Guarde bem estes nomes, pois aqui você terá os melhores vinhos de Bordeaux, mas não todos. Lembre-se que as regiões ficam às margens do rio Gironde – à esquerda!

Entre a sub-região de Margaux, que fica ao norte da cidade de Bordeaux, e a região de Saint Julien, temos duas sub-regiões interessantes: Listrac e, principalmente, Moulis. Ambas são um pouco afastadas das margens do rio Gironde, porém podem produzir bons vinhos e de melhor custo-benefício. Veja no mapa. Por vezes esta região, entre Margaux e Saint Julien, é denominada nos textos de “Médoc Central”.





O Médoc propriamente dito, ou seja, a parte norte (Bas-Médoc), não tem subdivisão, e os vinhos produzidos ali têm menor qualidade.

A maior parte dos vinhos produzidos no Médoc e em Haut-Médoc é de vinhos tintos.

Graves

Situada ao sul da cidade de Bordeaux e às margens do rio Garonne, afluente do Gironde. É uma região muito importante. Alguns vinhos excepcionais de Bordeaux são produzidos ali, como o notório Château Haut-Brion.

Na região de Graves, a proporção entre a produção de vinhos tintos e brancos é semelhante, o que difere de todas as outras regiões de Bordeaux.

Graves, recebe este nome em referência ao solo muito pedregoso da região, legado das geleiras da Idade do Gelo. Há ainda no solo, a presença de minúsculas pedras brancas de quartzo, também oriundo da mesma época.

Para complicar um pouco, é preciso citar que existe uma destacada sub-região em Graves, denominada de Pessac-Léognan, onde são produzidos os melhores vinhos da região, incluindo o famoso Château Haut-Brion (premier cru).



Terminamos aqui a margem esquerda de Bordeaux. Passemos então à margem direita.

Na verdade, as melhores sub-regiões de Bordeaux à direita ficam na margem direita do rio Dordogne, já que na margem direita do rio Gironde, não existe uma sub-região de destaque. Aqui temos duas sub-regiões importantíssimas: Saint- Émilion e Pomerol.



Saint-Émilion

Para mim, o maior destaque da região é a pequena cidade de mesmo nome. Uma pequena vila medieval impecável, charmosa e atraente. Aqui, respiramos vinhos e vinhas o tempo todo. Um passeio imperdível (em breve comentarei um pouco mais sobre a cidade). Nas suas redondezas temos os vinhedos de Saint-Émilion. A região vinícola em si é relativamente grande, e a qualidade dos vinhos é muito heterogênea, o que é um problema. Alguns vinhos produzidos aqui estão entre os melhores da região de Bordeaux. Os vinhos tintos são o destaque da região. Cito cinco Châteaux de renome: Ausone, Pavie, Figeac, Angelus e o mítico Cheval Blanc.

Pomerol

Esta pequena região vinícola de Bordeaux está situada junto à cidade de Saint-Émilion, ao norte. Não há uma divisão clara entre as regiões. Tudo é muito próximo. O destaque aqui é o todo poderoso Château Petrus. Não pelo Château em si, que é muito modesto em comparação aos grandes Châteaux da margem esquerda, mas sim pelo vinho, que é um dos melhores e mais disputados do mundo, e por isso, muito caro. Dois outros vinhos são destaque em Pomerol: o Trotanoy e o Le Pin.

Para finalizar as sub-regiões de Bordeaux, preciso citar a famosa região de Sauternes. Ela fica um pouco mais sul de Graves, ao longo do rio Garonne, e produz o melhor vinho doce do mundo. A produção é quase exclusiva de vinhos brancos doces. Destaque para o famoso Château d’Yquem.

É bom relembrar que a região de Entre- Deux-Mers fica entre os rios menores, o Garonne e o Dordogne. Os vinhos produzidos lá tem menor qualidade, comparados ao Médoc. Destaque para os vinhos brancos desta sub-região de Bordeaux. Porém, aproveito a oportunidade para citar um bom vinho tinto desta sub-região, o Château Carignan, e que tem ótimo custo-benefício.

Existem várias outras sub-regiões, mas de menor importância.

As uvas de Bordeaux



Para a produção dos vinhos tintos, destacamos a cabernet sauvignon, a merlot e a cabernet franc. A petit verdot e a malbec (a mesma cepa plantada na Argentina) desempenham um papel de menor importância.

Para os vinhos brancos as cepas mais importantes são a sauvignon blanc e a sémillon. Esta última é considerada a alma dos vinhos brancos de Bordeaux, conferindo ao vinho uma textura cremosa e um aroma de mel.

Todas estas uvas, brancas e tintas, têm origem na França.

Como já comentado, em Bordeaux, para a produção dos vinhos tintos, sempre temos uma mistura das uvas, em proporções diferentes, com o intuito de maximixar o sabor e corrigir os defeitos de cada cepa.



O chamado corte bordalês é composto de cabernet sauvignon, merlot e cabernet franc. É bom relembrar que em Bordeaux é muito rara a produção de vinhos varietais (de uma uva só), como no Chile.

A cabernet sauvignon dá a estrutura ao vinho, o tanino, enquanto a merlot oferece a fruta, pois ela é mais carnuda e redonda. A cabernet franc traz o aroma. A longevidade dos vinhos de Bordeaux está muito relacionada ao tanino presente na cepa cabernet sauvignon.
No rótulo das garrafas de Bordeaux não temos a indicação da uva, nem a composição das cepas. A presença de cada cepa está subentendida nas diversas regiões de Bordeaux.

Na margem esquerda, no Médoc, a uva preponderante é a cabernet sauvignon (em geral, 40 a 50%). Isto é explicado pela melhor adaptação da cepa ao solo, que tem muito cascalho e boa drenagem, e também ao clima, pela maior exposição solar – aqui os terrenos são planos.

Na região de Graves, ao sul da cidade de Bordeaux, o predomínio de cabernet sauvignon também prevalece, porém em menor grau que no Médoc.

Nas regiões de Pomerol e Saint-Émilion, a uva preponderante é a Merlot, seguida da Cabernet Franc e, em menor quantidade, a cabernet sauvignon. Aqui o solo é um pouco mais argiloso, o que dificulta a drenagem da terra, e o clima é mais ameno, limitando o amadurecimento da cepa cabernet sauvignon, que é mais tardio.

Você pode estar se perguntado sobre a importância dos rios que cortam a região? Basta compreender um velho ditado de Bordeaux: “os melhores vinhedos podem ver o rio”.


Outra curiosidade: apesar da cepa cabernet franc ser minoritária nos cortes bordaleses, o famoso vinho Cheval Blanc, em Saint-Émilion, é composto por cerca de 70% de cabernet franc. Esta cepa também tem muita importância no Vale do Loire, outra importante região vinícola francesa.

MJR

Em breve a Parte III.

sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Bordeaux – O melhor vinho do mundo. Parte I.



O título pode até parecer exagerado e presunçoso, mas em minha opinião e na de muitos outros enófilos (e enólogos respeitados) esta é uma afirmação consistente, sem muita dúvida. Um verdadeiro consenso! Durante muitos anos refleti e duvidei desta premissa, mas atualmente não tenho a menor dúvida. Talvez a maior prova seja que respeitados produtores mundo afora tentam, sistematicamente, “imitar” o padrão bordalês.  Vários produtores, como na Califórnia, Chile, Espanha e Itália, dentre outros, tentam reproduzir este vinho, alguns com sucesso, outros nem tanto. O motivo principal desta dificuldade é o terroir. Não existe uma tradução literal desta palavra de origem francesa para o português, que, em suma, quer dizer a interação das características do solo, do clima e da exposição solar com a cepa ali plantada.

Um fator que distancia os vinhos produzidos em Bordeaux dos amantes do vinho é o preço, especialmente aqui no Brasil. Uma garrafa simples pode custar muito caro. Os vinhos que são ofertados em supermercados são “refugos” e de péssima qualidade. Assim, é comum ouvirmos: “prefiro os vinhos da América do Sul, pois eles são mais encorpados e frutados”. E comparando vinhos da mesma faixa de preço, essa afirmativa é correta. Os vinhos de Bordeaux negociados aqui no Brasil por menos de 100 reais a garrafa, usualmente são horrorosos, magros, ácidos e sem graça. Os motivos principais do preço alto é a alta carga tributária brasileira, o preço do frete e a majoração feita pelos intermediários, importadores e varejistas. Como os vinhos do Chile e da Argentina chegam ao Brasil praticamente sem impostos (isenção ao Mercosul), usualmente eles são bem mais baratos. Costumo dizer aos meus amigos que pretendem visitar a França, que lá um Bordeaux acima de 20 euros usualmente tem ótima qualidade (pouco mais de 70 reais), mais aqui, no Brasil, esqueça. Se você não pretende pagar um pouco mais por uma garrafa, continue degustando os vinhos dos nossos hermanos.

A ideia de escrever sobre os vinhos de Bordeaux surgiu a partir da minha paixão pela França, da minha preferência por este mítico vinho e dos meus constantes estudos sobre a região. Mas o intuito principal é apresentar a região para aqueles que não conhecem ou ainda carregam algum preconceito sobre o vinho. Pretendo apresentar ao leitor do blog um texto simples e de fácil compreensão, e que realmente possa ser útil na compreensão do assunto e nas futuras degustações.

Não tenho a pretensão de esgotar o tema e nem comentar pormenorizadamente sobre todos os vinhos produzidos ali, mesmo porque não tenho esta competência. A ideia é dar ao leitor um “norte”, indicando os primeiros passos sobre esta fantástica região no sudoeste da França. Vou comentar os seguintes aspectos: a localização; um pouco da história; a complicada legislação francesa; as sub-regiões de Bordeaux; as cepas típicas e o corte bordalês; a classificação de 1855; a importância das safras; as principais cidades da região; os principais produtores e castelos (châteaux); o que visitar na região e como adquirir um bom vinho de Bordeaux. Espero que o conteúdo seja útil para os amantes do vinho!

A Localização.



A “região” de Bordeaux está situada no sudoeste da França, na região administrativa da Aquitânia. As terras estão às margens do imenso rio Gironde (e de seus afluentes), um pouco antes de seu estuário no mediterrâneo. Veja no mapa. Bordeaux é a principal cidade da região, e a mais populosa também.



Um primeiro conceito importante: a região vinícola de Bordeaux é dividida em margem esquerda e margem direita. Os solos, o clima e os vinhos são muito distintos, como comentarei em breve.

O rio Gironde é formado pela confluência de dois rios vindos do sul, o Garonne e o Dordogne, o primeiro mais próximo do mediterrâneo e o segundo mais interiorano. Os três rios formam um “Y” invertido. Assim temos a margem esquerda, a margem direita, e uma terceira região situada entre os dois rios afluentes, denominada pelos franceses de “entre deux-mers” (entre dois mares numa tradução literal – esta terceira região é menos famosa e importante).



A cidade de Bordeaux fica predominantemente na margem esquerda do rio Garonne, antes de sua união com o rio Dordogne.

A região mais famosa e nobre de Bordeaux, o Médoc, situa-se na margem esquerda do grande rio, o Gironde, logo ao norte da cidade de Bordeaux, antes do estuário deste rio. A produção vinícola é quase que exclusiva de vinhos tintos, onde prevalece a cepa carbernet sauvignon.

Mais um conceito importante: quase todos os vinhos da região de Bordeaux são produzidos a partir de uma mistura de uvas (assemblage); raramente são vinhos varietais, isto é, produzidos de uma uva só, como ocorre na Argentina, Chile e Califórnia, dentre outros.

Um pouco de história

Até o século XVII as terras do Médoc eram pantanosas e impróprias à produção agrícola. Engenheiros holandeses foram contratados pela nobreza de Bordeaux para drenar as terras às margens do rio, no intuito de melhorar a qualidade das mesmas. A palavra Bordeaux significa à beira d’água, ou nas bordas das águas (“au bord de l’eaux”).

A partir dos séculos XVII e XVIII a região de Bordeaux começou a se despontar na produção de vinhos de qualidade, facilitada pela proximidade do mediterrâneo e da navegabilidade do Gironde. Os ingleses eram os principais consumidores do vinho local.

No final do século XIX as vinhas de Bordeaux foram devastadas pela filoxera, um pequeno inseto, mas uma grande praga! A região entrou em decadência. A partir do controle da praga com enxertos das vinhas europeias em bacelos americanos, décadas depois, a região voltou a crescer e o vinho a se aprimorar. Mas foi nas últimas décadas que a região e a cidade de Bordeaux evoluíram ainda mais.  O que já era bom ficou ainda melhor!

Bordeaux é a principal e a maior região vinícola do mundo. Veja os números: mais de 900 mil hectares de vinhedos; mais de 7.0 bilhões de garrafas; mais de 8.0 mil châteaux e mais de 13 mil produtores. Os números são realmente impressionantes! Mas tenho uma má notícia: a maior parte dos vinhos produzidos lá tem baixa qualidade. Portanto é preciso entender um pouco sobre a região para selecionar os bons vinhos, caso contrário, pagarás gato por lebre!

MJR

** em breve a Parte II, até lá.

segunda-feira, 11 de julho de 2016

Hostellerie de Levernois (Borgonha, França)




Um pequeno pedaço de paraíso.

O acesso a essa pérola no coração da Borgonha se dá por uma charmosa ville nos arredores da conhecida Beaune. É uma cidade que parou no tempo. Se a visita for em outubro, uma enorme cerejeira em flor saúda o visitante logo na entrada da cidade. Suas ruas calmas são ladeadas por casas desenhadas e cuidadas com profundo esmero. Cada floreira parece ter desabrochado naquele mesmo minuto. A pequena igreja e a prefeitura completam a bucólica preciosidade do lugar.

A entrada do hotel se dá por um lindo portão margeado por roseiras em flor. Uma ponte cruza um riacho de águas calmas que o hóspede recém-chegado acompanha até a entrada da recepção. Um funcionário recebe o visitante e o conduz gentilmente ao quarto na edificação ao lado, por entre alamedas sombreadas por plantas rigorosamente aparadas.

O quarto é uma perfeita combinação da solidez e rusticidade de uma construção antiga, recentemente mobiliada com tal capricho que cada detalhe foi pensado para oferecer o mais profundo conforto.

O cansaço da viagem é facilmente aliviado por uma maravilhosa ducha de águas quentes que cai aos borbotões, deliciando o corpo e lavando a alma. Para os apreciadores, o banheiro dispõe também de uma espaçosa banheira. 

Para receber o entardecer, nada mais agradável do que sentar numa das chaises espalhadas pelo caprichoso jardim francês em boa companhia, ainda que essa seja de apenas um bom livro.

De volta ao quarto, a cama convidativa faz juz ao sono dos anjos. A maciez das plumas dos travesseiros e do rico enxoval de algodão egípcio da mais alta qualidade convida a sonhar...

Não sem antes desfrutar de um maravilhoso jantar no restaurante detentor de uma, mas merecedor de duas ou três estrelas Michelin. Os prazeres gastronômicos começam no entardecer do jardim, onde um lindo mobiliário francês rodeado pelo perfume das lavandas convida a um delicioso Cremant (espumante local). Como boas vindas ao restaurante, o primeiro amuse-bouche é servido ali, em meio ao maravilhoso jardim. Chegando ao restaurante caprichosamente decorado, as delícias se sucedem num ritual rigorosamente planejado por atendentes atenciosos e corteses. 


Após uma repousante noite de sono, o abraço da cama quase não permite que saiamos dela, tal o conforto que oferece. Mas é hora de desfrutar do desjejum, servido numa linda cozinha de fazenda e continuar o passeio pelas maravilhas da Borgonha.

Raquel








sábado, 5 de março de 2016

Jantar com amigos



Receber amigos queridos em casa é sempre uma oportunidade de testar novas receitas e montar nos pratos aquelas novas ideias que nós temos cada vez que se vê um prato de apresentação esmerada, que provoca boas sensações mesmo antes de começar a comer. Além disso, a mesa é o lugar de todos compartilharem experiências, de preferência quando a comida vem acompanhada de grandes vinhos.

Para começar, escolhemos um grupo seleto e uma região vinícola que dispensa comentários: Bordeaux.

Uma mesa bem posta é a melhor forma de dizer sejam bem-vindos! Nessa mesa, apenas sousplats com guardanapos, já que os pratos já viriam montados à francesa. As louças e taças coloridas são sempre muito bonitas na decoração, mas em jantares com pratos montados a louça de uma só cor, seja branca, creme ou preta, ressalta mais as cores e a disposição dos alimentos, resultando numa apresentação muito mais agradável. A louça branca é minha favorita: não tem jeito de errar e você pode variar seus formatos e relevos.



O prato de entrada é o cartão de visita; dessa forma, optamos por montar pequenas entradas bem decoradas dispostas ao longo de um prato grande.



Começando pela parte superior e em sentido horário:
  1. O clássico melão com presunto de Parma; o melão tem que ser de excelente qualidade e no ponto certo de amadurecimento, sendo ideal comprá-lo 3 a 4 dias antes. Enrolado com presunto de Parma pré-cortado bem fino e amarrado com uma ciboulette.
  2. Torrada de pão de forma de leite com cream cheese e carpaccio de salmão decorado com dill.
  3. Queijo brie com geléia de pêras
  4. Caprese de mini tomate italiano com mozzarella de búfala “la bufalina” e pesto de manjericão, decorado com uma folhinha de manjericão.
  5. Torrada de pão de leite com cream cheese com caviar enfeitado com ciboulette. 

O primeiro prato foi um creme de abóbora com bacalhau. O creme de abóbora kabutiá foi refogado na manteiga e cebola e adicionado creme de leite fresco para conferir mais cremosidade. O bacalhau foi grelhado em postas, depois lasqueado em lascas largas e disposto acima do creme. Reguei com azeite extra virgem “Herdade do Esporão” e decorei com um ramo de alecrim.



O segundo prato, um linguine com molho branco de limão siciliano e camarões flambados. Para o molho branco, refoguei cebola na manteiga de leite com sal e adicionei farinha de trigo e creme de leite fresco aos poucos, batendo sempre com um batedor fouet, como num molho bechamel normal. Depois, adicionei suco e raspas de limão siciliano e queijo grana padano ralado. O sal foi corrigido depois de adicionar o queijo. Os camarões foram puxados levemente no azeite e depois flambados no uísque e dispostos sobre a massa, finalizando com pimenta do reino moída na hora, um camarão maior e dois ramos de ciboulette.



O terceiro prato foi uma fraldinha com batatas assadas e cebolas carameladas. Para a fraldinha é necessária uma carne de primeira qualidade completamente limpa. Temperei a carne com sal e pimenta e envolvi em camada espessa de mostarda de Dijon. Então selei o pedaço inteiro de carne na frigideira de cerâmica, um lado de cada vez, e levei ao forno na temperatura de 220º C por cerca de 40 minutos a 1 hora. Para as cebolas carameladas, o mais importante é conseguir mini cebolas bem pequenas. Seu cozimento é bem lento e devem ser preparadas com antecedência. Refoguei manteiga de leite com um pouco de azeite para não queimar a manteiga e depois adicionei as cebolas, temperei com sal e abaixei o fogo para que caramelizassem lentamente. Quando estiverem com uma cor acastanhada, adiciona-se açúcar refinado em mínima quantidade para finalizar a caramelização. As batatas são descascadas e cortadas ao meio no sentido do comprimento e cada metade em 3 ou 4 pedaços de acordo com o tamanho da batata. São dispostas numa assadeira antiaderente de teflon, cerâmica ou aço carbônico e temperadas com sal, pimenta do reino e folhas de alecrim, regadas com azeite e levadas ao forno. A dica maior fica por conta do serviço: para evitar que a carne chegue fria e endurecida na mesa, a ordem de montagem do prato é muito importante: servir no prato primeiro as folhas temperadas, depois as cebolas, depois as batatas; a carne é então fatiada rapidamente e colocada nos pratos.



A sobremesa também foi um clássico: abacaxi grelhado com sorvete de baunilha. Para grelhar o abacaxi, nada é necessário, apenas dispor as fatias numa frigideira antiaderente com um mínimo de manteiga de leite; o próprio açúcar da fruta carameliza. As fatias devem ser dispostas nos pratos e então é colocado o sorvete de baunilha, decorado com canela peneirada e uma folha de hortelã.



Os vinhos foram servidos sem harmonização, às cegas, numa sequência onde as 4 taças com os 4 rótulos estivessem diante de cada um, para facilitar as comparações. O grupo elegeu, quase que por unanimidade, a sequência de qualidade da noite, nesta ordem:





Depois de tantas preciosidades, nada como finalizar com um Porto Tawny Graham 20 anos acompanhando regiamente a sobremesa, e despedir dos amigos esperando um retorno breve...



Raquel