segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Restaurante Maní – São Paulo, SP



Sofisticação com simplicidade: parece paradoxal? Não para os chefs Helena Rizzo e Daniel Redondo, à frente da cozinha no Maní. O orgulhoso casal comemora sua primeira estrela Michelin já na edição inaugural do respeitado guia no Brasil. A casa foi concebida em estilo rústico e abusa do branco e do minimalismo; seu pessoal recebe todos os visitantes de maneira notavelmente calorosa. O objetivo é um só: proporcionar ao público uma experiência gastronômica única, onde a altíssima qualidade da comida e dos serviços não produziram nos funcionários o grave defeito tão comumente encontrado nesses ambientes: a afetação. Essa palavra não tem lugar no Maní, onde tudo é descontraído, e é assim que eles nos fazem sentir: bem-vindos!



A gaúcha Helena Rizzo trabalhou como modelo e chegou a cursar a faculdade de arquitetura, mas foi na gastronomia que viu seu talento florescer. Estagiou com renomados mestres da culinária como Claude Troisgros e Emmanuel Bassoleil antes de ganhar o mundo e trabalhar na Itália até chegar ao célebre El Cellar de Can Roca, restaurante catalão sediado na pequena cidade de Girona, ao norte de Barcelona. O El Cellar possuiu em suas credenciais nada menos do que três estrelas Michelin, além de deter o título de “World’s Best Restaurant” atribuído pela respeitada revista inglesa, “Restaurant Magazine”. Em meio às panelas, o lugar foi perfeito para conhecer seu atual marido e sócio, Daniel Redondo. O tímido e tatuado catalão iniciou sua carreira como aprendiz de cozinha aos 15 anos de idade, na casa dos proprietários do El Cellar, a família Roca, tradicionais donos de uma pousada local, e ali foi galgando postos na cozinha do recém-criado restaurante, onde se tornou, nada menos, do que chef de cozinha. De lá partiram juntos em direção a São Paulo, onde fundaram em 2006 o Maní Manioca, estranho nome indígena da deusa da mandioca. Desde então não pararam de crescer e colecionar prêmios: Helena foi eleita “World’s Best Female Chef” em 2014, e o restaurante, recentemente agraciado com uma estrela Michelin, já figura como um dos 50 melhores do mundo pela “Restaurant Magazine”.



Tudo isso ainda é pouco para qualificar tamanha inventividade culinária. Os 70 felizardos que compartilham uma mesa na noite do Maní vêem passam por seus pratos ingredientes tão brasileiros como tucupi, banana da terra, pupunha, maracujá e, como não podia deixar de ser, a mandioca. A mandioca, estrela da casa, está desde o bolinho frito e empanado e o biscoito gigante de polvilho da entrada, até nas pequenas pérolas que flutuam no molho de tucupi. Mais gourmet, impossível!

Até o ovo ganha ares de estrela na cozinha do Maní: o ovo no Maní é um verdadeiro primor! A mais famosa entrada do restaurante é produto do cozimento de um simples ovo por três horas a uma temperatura constante de 63ºC, até que a clara e a gema adquiram consistência idêntica, macios e em estado sólido, mantendo suas características de cor e paladar. Regado com espuma de pupunha, o ovo do Maní é inigualável!


O menu degustação de 10 pratos desafia os mais experientes paladares e oferece uma sequência de sabores que é um verdadeiro deleite! Vieiras, lulas, peixe fresco, mandioca, ovo, pupunha, tutano e bochecha de boi vão desfilando pelo seu prato. Terminados os pratos salgados, um refrescante e inacreditável sorbet de pepino anuncia a sobremesa. Depois de tudo...apenas um café...isso é tudo que você vai conseguir comer.

Como se não bastassem as qualidades, vamos fazer um aparte para os vinhos. Esqueça sua imagem de sommelier como um profissional pretensioso e afetado que se julga melhor que você apenas porque entende de vinhos. E nem sempre entende, simplesmente o convence a escolher os rótulos mais caros, nem sempre os melhores. O maestro à frente da adega do Maní é Felipe Barreto, a própria imagem da simplicidade. Culto e viajado, é um profundo conhecedor e sempre prioriza em suas harmonizações, vinhos de regiões pouco conhecidas, até mesmo os nacionais. São rótulos de preço bem mais acessível e de qualidade surpreendente, como os tintos da região de Toro, na Espanha, recém incluída nas regiões vinícolas e que vem se despontando com excelência. Palavras de Felipe: “prove esse vinho com humildade, sem preconceito, você vai se surpreender”! 


Raquel Eckert Montandon