Barcelona é a concretização do
sonho do gênio arquitetônico de Gaudí, que imprimiu sua identidade à cidade.
Antoni Gaudí é considerado o maior expoente do Modernismo Catalão e um dos principais personagens da Art Noveau na Europa, apesar de seu estilo ser tão próprio que se torna difícil de classificar. Nascido em 1852 e durante seus 50 anos de carreira, combinou o amor pela Catalunha, sua terra natal, com o apreço pela natureza e uma profunda devoção religiosa. Morreu atropelado por um trem aos 73 anos.
Incontáveis livros ilustram seu
espírito genial, de modo a ser impossível resumir sua obra em poucas palavras. Suas
construções são tão ricamente decoradas que apenas olhos muito atentos - e bem
treinados - são capazes de perceber sua grandiosidade. O arquiteto não
desenhava suas obras; construía maquetes onde avaliava sua real possibilidade e estimava a sustentação das
estruturas. Desta forma, utilizou amplamente os arcos catenários, um dos seus
marcos, assim denominados por simularem a posição de uma corda suspensa pelas
duas extremidades. Também popularizou os planos abertos, que conferiam
iluminação e ventilação, o trencadís,
técnica semelhante a um mosaico, mas que utiliza fragmentos cerâmicos maiores,
e o ferro fundido, que adornava invariavelmente suas fachadas, quase sempre com
motivos da natureza. Neste rico universo, algumas obras merecem um destaque
especial.
O templo da Sagrada Família começou a ser construído em 1914 e a ele se dedicou exclusivamente por 43 obstinados anos. Inicialmente concebido para ser um templo gótico, assumiu o estilo inimitável de Gaudí. A primeira impressão é a fachada da Paixão, onde estátuas cadavéricas que encenam a tortura e morte de Jesus Cristo se entremeiam numa paisagem desértica, ladeada por colunas que lembram ossos humanos, tudo numa tentativa de aquilatar o sofrimento supremo. Ainda inacabada, a outra fachada, desta vez da Natividade, exprime todos os elementos contidos no nascimento de Cristo. As estátuas particularmente esculpidas em poses teatrais parecem dar vida à cena. Partindo em direção ao céu, os pináculos da mais alta igreja foram decorados com mosaico veneziano e alguns são finalizados com frutas ou flores. Adentrar a basílica é uma experiência mágica. A iluminação foi concebida de modo que a luz, ao atravessar os vitrais, cada qual com um predomínio cromático, incide em focos multicoloridos dentro da nave. As altíssimas colunas góticas simulam troncos de árvores, cuja finalização em arcos mimetiza as folhas das copas das árvores. Tudo é luz e cor. Nas palavras de Gaudí: "O templo da Sagrada Família será o templo da luz harmoniosa. Na iluminação das igrejas existe um mal entendido de que a abundância de luz é um elemento positivo. Não é bem assim. A luz deve ser a necessária, nem demasiada, nem pouca, posto que ambas as coisas cegam. E os cegos não vêem."
A Casa Milá ou La Pedrera foi construída já nos anos de
maturidade profissional da Gaudí. Idealizada como um edifício de apartamentos,
ainda hoje conserva seu mobiliário cuidadosamente desenhado pelo artista. Além
da construção de grandes fendas que permitem a entrada de luz e ventilação
naturais, é em sua cobertura que o espírito inventivo se manifesta: diante do
conceito de telhados com chaminés feias e sujas, simplesmente deu de ombros e
provou que até mesmo ali podia externar todo o seu capricho: num cenário quase
surreal, formas sinuosas arrematam as saídas das escadas e as chaminés,
ricamente revestidas pelo trencadís.
A Casa Calvet foi idealizada como
residência e escritório de um comerciante e hoje abriga um excelente
restaurante tradicional de serviço cortês e comida bem elaborada. Em sua
fachada os terraços são ricamente ornamentados com grades de ferro fundido
imitando motivos da natureza. Todo seu interior se mantém primorosamente
conservado e exprime com distinção e elegância cada detalhe do estilo Art Deco.
Podemos citar também as obras
realizadas sob encomenda de Eusebi Güell, seu patrono e grande amigo, a Finca
Güell, o Parque Güell e a Cripta Güell; além destas, o Palácio Episcopal, a
Casa Vicens, a Casa Bartlò (fotos abaixo) e um sem número de outras obras.
Poucos gênios serão como Gaudí:
em sua introspecção religiosa e silenciosa dedicação revolucionou todo um
movimento artístico com as próprias mãos.
Raquel