Poucos lugares são tão poéticos como a Toscana. Suas vilas
com casas de pedra, suas alamedas de ciprestes, suas cidades medievais... O
tempo realmente parou ali. Era uma tarde de abril e partimos de Roma em direção
a Siena, antiga capital do Reino, arquirrival de Florença. No caminho, um
daqueles lugares que você precisa conhecer antes de morrer: Montepulciano. A
antiga cidade medieval fica no alto do morro. Como tantas outras, é cercada por
muros, e o carro fica do lado de fora do centro histórico; dali, uma enorme
subida ladeada pelas altas fachadas das casas. Aquelas portas bem antigas com
vasinhos de flores coloridas. Na Piazza
Centrale, o Duomo gótico, majestoso.
E alguns mirantes de onde se pode apreciar a vista do vale. Não há restaurantes
abertos no meio da tarde, mas encontramos uma pérola: "Vinoteca e Bruscheteria La Dolce Vita". O
estabelecimento tem uma entrada pequena e as mesas de madeira são na calçada.
Na porta, uma inscrição: "la vita é
piu breve per bere vini mediocre". Dentro, uma fantástica adega,
daquelas de arcos de pedra, recheada de rótulos irresistíveis. Mas tínhamos um
pacto de beber apenas vinho da região, de modo que os grandes vinhos europeus
ficaram para uma outra oportunidade, e nos acompanhou um Vino Nobile de Montepulciano de um grande produtor, Poliziano. Pode parecer exagero, mas ali se come um daqueles pratos que você
precisa provar: bruschetta com creme
de trufas frescas e queijo pecorino derretido...e bruschetta al pomodoro, com os tomates perfeitos que só crescem na
Toscana. Não foi propriamente um primor gastronômico: uma mesa na calçada
comendo bruschettas e tomando Vino Nobile, mas um calmo silêncio e um céu
bem azul abençoaram nossa refeição. De sobremesa, um bolinho quente de
chocolate servido sobre uma fatia fininha de laranja vermelha, muito doce e caramelizada,
acompanhado à altura por um Vin Santo.
A estrada de vinhedos e olivais nos levou à Siena, uma fortaleza medieval
rodeada por antigos muros, iluminada pela luz dourada do entardecer... Se pelo
efeito do vinho ou pela beleza real da paisagem, alguma coisa pareceu mágica
naquela tarde.
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