Um pouco mais sobre os
châteaux e vinhos do Haut-Médoc
A melhor maneira de conhecer a região de Bordeaux é de
carro. Existem vários agentes turísticos locais que fazem excursões diárias para
os principais châteaux, saindo da cidade de Bordeaux, mas se você puder faça o
passeio por conta própria. É muito mais prazeroso, sem regras e sem limites.
Mas tenha muito cuidado e não dirija sob o efeito do álcool – planeje o
motorista da rodada!
Já tive a oportunidade de visitar várias regiões vinícolas
na Europa, especialmente na França, mas nada se compara a uma visita à margem
esquerda do rio Gironde. Para os amantes do vinho a região é incomparável!
Um dia de passeio é bom, mas talvez dois seja o ideal. Há
quem fique hospedado num dos châteaux da região que dispõe de quartos e
restaurantes privativos, por uma ou duas noites. Ainda não tive a oportunidade
de fazer esta opção, mas quem já fez, garante que vale a pena!
Na minha visita optei por ficar hospedado na cidade de
Bordeaux, por quatro noites, e alugar um carro para passear pelo Haut-Médoc e
pelas demais regiões de Bordeaux. A comuna de Margaux fica a 25 km do centro de Bordeaux. Existe uma estrada
principal margeando os vinhedos, mas o ideal é por dentro dos vinhedos,
seguindo pelas pequenas vias: sem pressa, parando e admirando a bela paisagem.
O terreno é totalmente plano e ao chegar à Margaux você verá castelos e mais
castelos. Cada um mais charmoso que o outro. Entre os castelos, vinhedos e mais
vinhedos. É impressionante a beleza das propriedades!
Para visitar os châteaux mais prestigiados é preciso
reservar com antecedência pela internet ou por telefone. Fiz tudo por email. Quase
todos são abertos para visitas. Optei por conhecer o Château Cos d’Estournel, em Saint-Estèphe. A minha escolha foi baseada
na imponência do castelo – uma construção atípica para a região. A primeira vez
que vi este belo Château foi num DVD produzido pelo jornalista Renato Machado no
canal fechado GNT no começo da década passada. Outro motivo foi a qualidade dos vinhos
produzidos ali: um dos meus preferidos. A visita foi impecável. Se tiver
interesse, leia o post publicado em maio 2015.
Depois da cidade de Margaux (cerca de 15 km ao norte), a
próxima comuna importante é Saint-Julien
(Saint-Julien / Beychevelle). A importância desta pequena aldeia se dá pelo número
expressivo de châteaux classificados em 1855. Logo depois de Saint-Julien (a
divisa é praticamente imperceptível) temos a comuna de Pauillac, a mais badalada de todas, em virtude dos grandes châteaux
ali situados e da pequena vila às margens do Gironde. Grudado em Pauillac,
literalmente, temos a região de Saint-Estèphe,
outra comuna importante do Haut-Médoc. Um fato me marcou bastante: os Châteaux Lafite-Rothschild e Cos d’Estournel fazem divisa, um em
Pauillac e outro em Saint-Estèphe. Apenas uma estreita faixa de vegetação os
separa (veja nesta imagem aérea do Google Earth). E o mais interessante: os
vinhos são totalmente distintos!
Entre Margaux e Saint Julien, temos o chamado Médoc Central, uma área menos nobre,
mas que produz alguns excelentes vinhos, não classificados em 1855. As duas
principais aldeias são Listrac e Moulis.
Excelentes vinhos, Cru Bourgeois,
são produzidos aqui e com preços bem camaradas. As duas vilas são mais
interioranas, longe do rio, o que prejudica a qualidade do solo. Todavia, em
anos bons e nas mãos de bons produtores, você poderá encontrar excepcionais
vinhos. Procure pelo Château Maucaillou,
Château Chasse-Spleen e Château Poujeaux, dentre outros. Recentemente numa
degustação às cegas na minha casa, o Chasse-Spleen 2001 bateu vários Grand Cru Classé de 1855 do Haut-Médoc.
As características
das sub-regiões do Haut-Médoc e os vinhos de destaque.
Margaux – é a maior
comuna do Haut-Médoc e a mais ao sul. O solo é mais leve e pedregoso – muito cascalho
– e a drenagem da terra é quase perfeita. Os vinhos são descritos como
elegantes, aromáticos e finos. O Châteaux
Margaux é o mais importante – o único premier cru da região. Outro expoente
é o Château Palmer (troisième cru) –
um castelo maravilhoso. Dos 61 vinhos classificados em 1855, 21 estão
localizados em Margaux. Destaco os seguintes: o Château Rauzan-Ségla, o Château
Lascombes, o Château Cantenac-Brown,
o Château Kirwan e o Château D’Issan.
Saint-Julien – é
a menor comuna, porém 95% dos châteaux estão listados na classificação de 1855.
São 11 no total. Talvez no Médoc, sejam meus vinhos preferidos pelo
custo-benefício. Karen MacNeil no seu livro A Bíblia do Vinho escreveu:
“se você quiser beber apenas os vinhos dessa comuna pelo resto da vida, com
certeza será muito feliz”. Os vinhos são saborosos, refinados e, ao mesmo tempo,
potentes. Não sei o motivo, mas sempre tive uma queda pelos vinhos do Château Lagrange. Tive a oportunidade
de degustar várias safras, quase todas muito boas, especialmente as mais
antigas. Outro vinho marcante da região é o Château Gruaud-Larosse. Destaco ainda os seguintes châteaux: os
três Léoville, o Ducru-Beaucaillou, o Branaire-Ducru e o Beychevelle. Não poderia terminar esta comuna sem comentar sobre o Château Gloria. Ele produz um vinho
delicioso, complexo e relativamente barato. Recentemente paguei 45 dólares por
uma garrafa, safra 2010. Uma pechincha pela qualidade do vinho!
Pauillac – a
maior estrela do Haut-Médoc. O requinte do requinte! Três dos cinco premiers
crus estão localizados aqui (Château
Lafite-Rothschild, Château Mouton-Rothschild e Château Latour). A comuna em si é menor que Margaux, mas possui
18 vinhos classificados em 1855. Os vinhos de Pauillac são descritos como mais
encorpados e complexos, todavia o terroir é muito variado, e por isso as
características dos vinhos oscilam muito entre as propriedades. A proporção entre
as uvas usadas para a vinificação também é muito variada: alguns utilizam mais
cabernet sauvignon (até 70%) e outros nem tanto (45%). Além dos três premiers
crus, destaco ainda o Château Lynch-Bages,
o Château Longueville Comtesse de
Lalande, o Château
Haut-Bages-Libéral, o Château
Grand-Puy-Lacoste e o Château
Grand-Puy-Ducasse.
Saint-Estèphe –
pequena comuna ao norte, no extremo do Haut-Médoc. Aqui os vinhos são mais
austeros e potentes, em virtude do solo mais pesado, o que dificulta a drenagem
do mesmo. Sou literalmente apaixonado pelos vinhos daqui. Além do Cos (como os produtores locais chamam o
Château Cos d’Estournel), outro
vinho soberbo é o Château Montrose. Em
2014, em visita à França, tive a oportunidade de beber a safra 1996 deste vinho
– algo inesquecível. Mais uma vez gostaria de citar que a visita privada ao Château Cos d’Estournel é impecável e
que pode ser reservada com antecedência pela web. O custo não é tão alto, haja
vista que é uma visita exclusiva para poucas pessoas. Vale a pena. Recentemente
a safra 2009 foi excepcional. As duas estrelas da região, o Montrose e o Cos, foram laureadas com a nota máxima, 100, pelo jornalista
americano Robert Parker.
MJR
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